Espaço Yan Michalski
Unidade CAL Laranjeiras
Rua Rumânia 44
"O que é bom em segredo, é melhor em público."
A temporada de montagens na CAL não é a mesma sem Nelson Rodrigues. Desta vez, coube a turma BT48 investigar o moralismo das relações familiares e sociais brasileiras, tão descortinada na obra do nosso “anjo pornográfico”.
A montagem parte da adaptação do romance “O Casamento”. Na trama, Sabino é um pai às vésperas do casamento de sua filha que recebe uma notícia vinda de Dr.Camarinha, o ginecologista da família. Por trás dos personagens desta história — um ilibado pai de família de classe média alta, jovens descobrindo a vida, mulheres honestas e castas —, escondem-se desejos e tragédias desmesuradas, além de eventos que eles gostariam de ver perdidos no tempo, mas que voltam para cobrar a conta.
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Com a palavra, o diretor.
“Em 1966, o romance O Casamento, de Nelson Rodrigues, foi um sucesso de vendas. Um mês após sua publicação, o livro foi recolhido pela censura, sendo acusado de desmoralizar a instituição chamada casamento. Para os censores, o livro ainda exibia linguagem indecorosa e atentava contra a organização da família.
Nelson se defendeu no dia seguinte: “Eu me dou ao direito de ser contra quaisquer usos, costumes, instituições, ideias, cultos. Penso como quero e não admito, nem aceito que ponham limite nos meus pontos de vista. Mas insisto: não há, nas minhas trezentas páginas, uma única e vaga objeção ao matrimônio.”
O livro só foi liberado um ano após sua proibição e, de certa forma, ainda continua chocando a família tradicional brasileira ou, como Sabino se intitula, o “homem de bem”. Em tempos de caça aos autores e censura prévia, não seria de espantar se, em 2024, tentassem recolher O Casamento mais uma vez.
Nossa peça quer homenagear quem primeiro levou ao palco essa aventura. Na década de 90, o grupo carioca Os Fodidos Privilegiados, com direção de Antonio Abujamra e João Fonseca, encenou as aventuras de Sabino, Glorinha, Noemia, Xavier... O espetáculo foi um grande sucesso de crítica e público e marcou o grupo para sempre. Em nossa montagem usamos o mesmo texto adaptado por João Fonseca, trazemos de volta parte da trilha criada por André Abujamra e seu grupo Karnak, assim como algumas ideias, como as irmãs xifópagas e o personagem Romário, que se desdobra em várias funções ao longo da peça.
Nelson fala da hipocrisia de nossa sociedade, mas também fala dos desejos inconfessáveis de todos nós. E se seus personagens masculinos são tão falhos, nos apresenta uma mulher ciente de seu prazer, que se permite e faz suas próprias escolhas. Para muitos são histórias indecorosas, mas basta abrir o jornal do dia pra ver que o Anjo Pornográfico só estava mostrando, cruamente, nossa própria face.
É preciso passar por um Nelson Rodrigues para entender o Brasil.”
Marcos França
Nelson Rodrigues
João Fonseca
Marcos França
Claudia Mele
Monica Karl
Ariel Reyes
Marcos França
Turma BT38
Marcos França
Manu Estrella
Yago França
Ana Parreiras
Rita Ariani
Jayme Sousa
Joás de Souza
Luiz de Oliveira
Sônia Machado